O adenocarcinoma de pâncreas é o tipo mais comum de câncer que afeta este órgão, correspondendo a cerca de 90% de todos os tumores malignos pancreáticos. O pâncreas é um órgão abdominal que está localizado imediatamente atrás do estômago. Tem um formato alongado e mede aproximadamente 15 cm de extensão e 5 cm de largura. É dividido em três regiões anatômicas (cabeça, corpo e cauda) e é composto de dois tipos principais de células (exócrinas e endócrinas).
As células exócrinas formam a maior parte da glândula e são responsáveis pela produção de enzimas digestivas. É destas células que se origina o adenocarcinoma de pâncreas, câncer mais comum do órgão. As células endócrinas estão em menor número, são as responsáveis pela produção de importantes hormônios, como insulina e glucagon.
As células endócrinas também podem dar origem a tumores, chamados de tumores neuroendócrinos do pâncreas. O comportamento desses dois tipos de tumores é completamente diferente e o tratamento também.
Considerado raro antes dos 30 anos de idade, a incidência dessa neoplasia se torna mais comum com o avanço da idade, sendo mais frequentemente diagnosticado a partir dos 60 anos. Este tumor maligno também se mostra até três vezes mais frequente em fumantes, o que coloca o tabagismo como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença.
O que causa este tipo de câncer de pâncreas?
Existem alguns fatores que sabidamente elevam o risco de uma pessoa desenvolver um câncer de pâncreas. O surgimento dos adenocarcinomas de pâncreas pode estar relacionado a fatores de risco hereditário e não hereditários. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre 10 a 15% dos desses tumores decorre de fatores hereditários.
Os principais fatores de risco relacionados ao adenocarcinoma de pâncreas são:
- É Um dos mais relevantes. Acredita-se que até 25% dos cânceres de pâncreas estejam relacionados com o cigarro;
- Obesidade;
- Sedentarismo;
- Diabetes Mellitus;
- Pancreatite crônica;
- Exposição a substâncias químicas prejudiciais ao organismo, tais como solventes, tetracloroetileno, cloreto de vinila e agrotóxicos;
- A maioria dos pacientes tem mais de 65 anos, a idade média ao diagnóstico é em torno de 70 anos;
- Sexo masculino. Os homens são um pouco mais afetados que as mulheres;
- História familiar da doença;
- Síndromes genéticas hereditárias. Exemplos: câncer de mama e/ou ovários associados aos genes BRCA1, BRCA2 e PALB2, Síndrome de Peutz-Jeghers, Síndrome de Lynch, Síndrome de pancreatite hereditária e outros.
É possível prevenir?
Levando em consideração os fatores de risco que são evitáveis, podemos considerar que a melhor forma de prevenir o adenocarcinoma de pâncreas consiste em assumir um estilo de vida saudável. Isso inclui evitar o tabagismo ativo e passivo, evitar consumo de bebidas alcoólicas, praticar atividades físicas regularmente e manter uma alimentação adequada para manter o nível de gordura corporal sob controle.
No caso dos fatores de risco herdados geneticamente, grupos com maiores chances de apresentar a doença devem manter acompanhamento com médico especialista de maneira regular.
Principais sintomas e diagnóstico
O adenocarcinoma de pâncreas é um câncer silencioso. Os tumores em estágios iniciais geralmente são assintomáticos. Os sinais e sintomas sugestivos da doença só costumam aparecer quando o tamanho do tumor aumenta. Os sintomas apresentados variam de acordo com a região em que o tumor está localizado no pâncreas, sendo que os tumores localizados no corpo e cauda do órgão costumam ser ainda mais silenciosos que os da cabeça.
O sintoma mais característico é a icterícia (cor amarelada da pele e dos olhos). Ela decorre do crescimento do tumor e consequente compressão do canal biliar. Esse canal leva a bile produzida no fígado para o intestino e passa junto à cabeça do pâncreas. Por isso, a icterícia é o achado mais comum nos tumores dessa região. Pelo mesmo motivo, costumam também aparecer: urina de coloração escura, fezes sem cor e coceira no corpo.
Outros sinais e sintomas frequentes são:
- Dor nas costas ou no abdômen;
- Perda de peso;
- Perda de apetite;
- Náuseas e vômitos;
- Diabetes;
- Trombose em veias de outras partes do corpo.
Podem ser solicitados alguns exames de sangue e imagem para o diagnóstico adequado do adenocarcinoma de pâncreas. O CA 19-9 é uma substância presente no sangue que tende a se elevar em portadores da doença, podendo ser útil para o diagnóstico. Exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, são fundamentais. Além de mostrarem a presença do tumor no pâncreas, dão informações importantes sobre a invasão de estruturas próximas e órgãos distantes.
Em muitos casos pode ser necessária a realização de uma biópsia para confirmação do diagnóstico. Quando necessária, na maioria das vezes, é possível que seja feita por métodos minimamente invasivos, sem necessidade de cirurgia. Em algumas situações, quando se tem um diagnóstico de alta probabilidade do adenocarcinoma de pâncreas e acredita-se que a cirurgia é o melhor tratamento a ser realizado inicialmente, é possível que a biópsia seja dispensada.
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Tratamento para o adenocarcinoma de pâncreas
Feito o diagnóstico de adenocarcinoma de pâncreas, o time de especialistas envolvido no tratamento do paciente deverá propor a melhor estratégia de tratamento. Serão levados em conta diversos fatores na tomada de decisão, como: tamanho do tumor, invasão de estruturas próximas, disseminação à distância, idade e condição clínica geral do paciente.
Uma vez que o tumor pode causar obstrução do canal biliar (que leva a bile produzida no fígado para o intestino), o paciente pode apresentar-se, inicialmente, com um quadro chamado de colangite. Ele consiste na infecção da bile que fica acumulada no fígado. Quando ocorre a colangite, ela precisa ser tratada antes mesmo do tumor. Normalmente, isso pode ser feito com a passagem de próteses no canal biliar de maneira minimamente invasiva.
As modalidades de tratamento mais frequentemente empregadas para o tratamento do adenocarcinoma de pâncreas são:
- Cirurgia;
- Radioterapia;
- Quimioterapia;
- Imunoterapia e terapia alvo (targeted therapy).
A cirurgia, sempre que passível de ser realizada, faz parte dos esquemas de tratamento que buscam a cura do tumor. O tipo de cirurgia empregada varia conforme a localização da neoplasia no pâncreas. A duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple) é o procedimento empregado para a remoção dos tumores localizados na cabeça do órgão. Para os localizados no corpo e na cauda, é realizada a retirada dessa parte da glândula, na maioria das vezes, em conjunto com o baço (pancreatectomia distal com esplenectomia).
Apesar de a cirurgia ser um tratamento capaz de oferecer a cura da doença, isso não significa que a cura será sempre alcançada. Mesmo após uma cirurgia bem sucedida, com remoção completa do tumor, o adenocarcinoma de pâncreas pode voltar. Isso porque, algumas células tumorais podem se desprender do tumor principal e não serem visíveis nem aos exames de imagem nem aos olhos do cirurgião.
A cirurgia para o adenocarcinoma de pâncreas é sempre um procedimento de grande porte, complexo e que envolve alguns riscos para o paciente. Pela natureza invasiva da doença, órgãos próximos ao pâncreas e vasos sanguíneos importantes (ex. vasos mesentéricos) podem ser envolvidos pelo tumor. A remoção associada dessas estruturas é, às vezes, necessária para que seja possível a retirada completa do tumor, o que aumenta muito a complexidade da cirurgia.
O Dr. Iron Pires é cirurgião do aparelho digestivo, especialista em cirurgia pancreática, biliar e hepática. Para saber mais sobre o tratamento para adenocarcinoma de pâncreas e entender como é realizada a cirurgia da doença, entre em contato e agende uma consulta.
Fontes:
Sociedade Americana de Câncer;
Instituto Nacional de Câncer — Inca;